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No novo clipe “Queima”, Cleo e Pocah revivem universo das bruxas com o objetivo de reforçar o poder feminino


Nesta quinta-feira, 12 de dezembro, Cleo lançou o novo single “Queima”, uma parceria com Pocah. No mesmo dia, saiu um clipe super forte! As imagens são inspiradas na perseguição das bruxas na época da Inquisição, fazendo uma crítica e analogia sobre a tentativa da sociedade em diminuir as mulheres e os seus poderes atualmente.

Não dá pra negar que a música é empoderada, tendo como principal objetivo dar uma resposta para aqueles que tentam, de todas as formas, silenciar o poder feminino. Com direção de Felipe Sassi, responsável por vídeos da IZA, Gloria Groove e Ludmilla, foram introduzidos signos e simbologia para que as protagonistas dessa história pudessem trazer o sagrado feminino e sua luta contra os abusos que sofrem
diariamente, fazendo uma reflexão profunda desse universo.

Entre os temas reproduzidos nas cenas, Cleo faz um cenário sobre relacionamentos abusivos, mostrando o quando isso ainda é uma questão que precisa ser combativa. Além de Cleo e Pocah, aparecem Zélia Duncan (cantora), Anielle Franco (Mestra em Letras e Jornalismo), Rafa Villella (produtora musical) e Indianare Siqueira (Presidente da Transrevolução e fundadora do PreparaNem). Todas elas mostram um pouco de todo o poder que a mulher representa.

O resultado você confere abaixo:

O Portal POPline conversou com a Cleo sobre seu mais recente projeto. Leia:

Você vem construindo esse diálogo sobre poder feminino e a pressão que a mulher ainda, infelizmente, vive na sociedade atual com padrões inalcançáveis. “Queima”, de certa forma, é (até o momento) o ponto alto da sua mensagem sobre esses temas importantes, principalmente para uma jovem de sua geração?
Eu não sei colocaria como o ponto alto, porque nos últimos meses tenho sido muito mais aberta a respeito desse tema (pressão estética, social e etc) do que antes e tenho notado uma repercussão muito positiva a respeito. As pessoas estão ouvindo, estão se encontrando no que acontece comigo, porque isso também acontece com milhares de outras pessoas. Eu acho que a música vem para selar e contribuir ainda mais para a mensagem que quero passar, dessa vez em uma vertente musical, que é uma das formas que eu mais gosto de me expressar. O significado é mais direto e reto.

Conta para gente como foi a criação e produção dessa música.
Esse foi um ano em que eu foquei bastante nas produções dos meus projetos. No início do ano fiz um acampamento criativo nos Estados Unidos e Brasil, aproveitei para analisar com a minha equipe o material que eu tinha e o que eles estavam me trazendo. Mas essa música só começou a tomar forma em meados de Junho, quando estávamos analisando muito o que eu estava vivendo e o que eu queria transmitir nesse primeiro lançamento. É um desabafo. Demorou alguns dias para a letra ficar pronta. Mas contei com uma equipe foda. Temos o Iberê, a Jack, a Jeni Mosello, o Lucas Vaz, o Arthur Marques, Diego Timbó e o Thai. O beat a gente partiu de um super trap e aí acabou virando um trap mais acessível. Já a melodia foi algo que fiquei extremamente focada, porque queria algo melódico e que me desafiasse vocalmente também. A ópera veio quase como uma identidade, porque essa referência vai estar presente em outros lançamentos meus.

E como você chegou a esse enredo para o videoclipe que faz uma analogia entre a época da Inquisição e a repressão que sofremos no dias de hoje?
No passado costumavam literalmente queimar mulheres que eram independentes, usando o artifício da bruxaria como desculpa. Nos dias atuais, ainda acontece, mas de uma outra forma. Somos silenciadas constantemente, nossos sentimentos e lutas desqualificados quando entram em atrito com a sociedade machista que vivemos. A nossa luta é classificada como “mimimi” ou como algo radical que não deve ser levado em consideração. Eu sofro isso, você sofre, a sua vizinha sofre, a sua amiga sofre, a sua mãe sofre, a sua avó com certeza sofreu e por assim vai. É um ciclo que se a gente não se movimentar, nunca vai ter fim.
Eu quis resgatar essa ancestralidade bruxa que todas nós temos, fazer esse tributo à elas e mostrar que hoje em dia é só uma forma diferente que nos silenciam. E mostrar que a mulher é capaz e tem um poder enorme para se refazer, independente das adversidades que sofra.

Como foi essa troca de ideias com o Felipe Sassi? Ele é super próximo de outras artistas femininas, se destacando justamente por dar vida à música de grandes nomes da música pop feminina hoje e drag queen. O quão é necessário produtores masculinos terem essa visão empática e a favor da voz de vocês mulheres artistas?
O Felipe é incrível! Já fazia algum tempo que estávamos ensaiando em trabalhar juntos, mas a oportunidade não tinha chegado. Dessa vez rolou e fiquei muito contente. O Felipe tem uma sensibilidade para entender o que eu quis passar e também colocar um pouco do próprio olhar dele, de fazer tudo isso acontecer. O background dele traz essa sensibilidade, foi algo que realmente importava para mim: ter alguém, mesmo que seja homem, mas com um olhar sensível para a história.

Eu queria também que você falasse no papel que cada uma das incríveis convidadas tem nesse projeto visual e o que cada uma trouxe para o projeto: Zélia, Anielle, Rafa e Dríade.
Eu queria mulheres que viessem para representar o empoderamento feminino, mulheres que eu sou fã e admiro. Eu ainda estou nas nuvens e sem acreditar que tanta gente potente topou fazer parte. Elas são figuras femininas que me inspiram por sua luta e superações. É a união feminina, que é sim muito forte e necessária. E cada uma trouxe, sua história, seus anseios e angustias, suas dores e lutas.

Como falei, você vem tratando de diversos assuntos, muito pessoais, com sua série online e na música. Falando de opressão, sexualidade, machismo, as cobranças, rebatendo o tal “padrão” estético e de comportamento. E o feedback nem sempre é positivo, com empatia, inclusive de mulheres. Muitos a criticaram. Qual foi o pior comentário que recebeu?
Eu não sei se conseguiria classificar um comentário só como o pior que já recebi. Acho que todos os comentários que são feitos na base do ódio, do preconceito e da opressão são péssimos. Mas tento não sofrer por isso também. Eu entendo que cada um tem o seu tempo de aprendizagem e eventualmente a ficha vai cair nessas pessoas; pode não ser hoje ou amanhã, mas uma hora cai. O meu dever, não só como mulher mas como ser humano, é estar sempre em evolução. É garantir que eu seja melhor do que fui ontem e assim vai.

O que você aprendeu com o que veio de seguidores nas redes sociais e que mensagem gostaria de continuar enviando a eles?
Eu aprendi que ninguém está imune às críticas inconsequentes, mas também tem muita gente bacana tentando fazer a diferença. A gente fala muito sobre os que tentam nos prejudicar – e claro que isso tem que ser falado, porque existem consequências – mas temos que falar também sobre aqueles que estão apoiando, criando redes de suporte. E essa é a mensagem que quero continuar a enviar. A gente tem que se unir, temos que ter empatia e respeito pelo próximo, só assim vamos melhorar como um todo.

As músicas sucessoras de “Queima” terão a mesma pegada, mensagem? Sobre o que mais você quer falar?
Eu vou falar um pouco sobre tudo, músicas que (espero) tragam alguma reflexão e música só para curtir também. Já tenho algumas músicas definidas que vamos lançar no ano que vem. É importante falar sobre esses assuntos, mas eu também amo fazer coisas voltadas só para o entretenimento. Assim como todas as decisões que faço, essa não será diferente: não vou me permitir limitar em um segmento só. Quero fazer música, simplesmente.