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Termômetro de Verão: Sandy – Manuscrito – Ao Vivo


Com incríveis 21 anos de carreira e uma bagagem artistica de causar inveja em qualquer performer de sua idade, Sandy lançou “Manuscrito”, primeiro DVD de sua carreira solo. O trabalho é fruto da apresentação da cantora no dia 24 de agosto de 2011 para 1.500 pessoas no Teatro Bradesco, em São Paulo. Com o mesmo toque intimista que vem conduzindo a carreira da jovem desde o lançamento de seu primeiro álbum, “Manuscrito Ao Vivo” é produzido por seu irmão Júnior Lima e seu marido Lucas Lima.

Pés Cansados – 60
O DVD inicia-se com imagens aleatórias de plantas e paisagens semi-áridas na introdução de “Pés Cansados”. Tratam-se de referências ao videoclipe da canção. Não há como não identificar prontamente os vocais da filha de Xororó. A voz, característica entoa o single com muita técnica e pouca empolgação. A iluminação é impecável, assim como a edição do trabalho.

Dedilhada – 60
Na mesma posição, com o mesmo esboço facial e gestos, Sandy performa mais uma canção de sua carreira. “Dedilhada” é a quinta faixa de “Manuscrito”, álbum lançado em 2010. Na interpretação, a cantora pouco interage com o público que, apesar de pequeno, parece afastado, distante. A apresentação permanece morna e técnica, com uma boa banda acompanhando bons vocais.

Ela / Ela – 50
O concerto segue com mais uma faixa do disco solo da irmã de Júnior Lima.O palco recebe iluminação sépia fazendo uma menção subjetiva às imagens infantis que percorrem o telão que preenche o palco, logo atrás dos músicos. Sentada, Sandy continua vocalmente impecável, milimetricamente ensaiada. Talvez, se errasse uma nota, conseguisse sair da bolha que parece a sufocar, podendo demonstrar um pouco mais de espontaneidade.

Perdida e Salva – 55
Após explicar o quanto a carreira musical ativa fez falta enquanto conhecia a realidade de uma dona de casa, a jovem de 28 anos apresenta “Perdida e Salva” e pela primeira vez interage, timidamente, com a platéia. Ninguém espera, realmente, que Sandy seja uma Madonna ou se vista de carne para chamar atenção. Entretanto, um pouco de espírito artístico mais mainstream cairia muito bem aí. Aonde estaria o lado devassa de Sandy Leah?

“Beija Eu” – 60
Apesar de 18 anos de carreira musical, Sandy tem apenas um disco solo. Por este motivo, o show obviamente emergido por versões de outros artistas. A primeira e certa escolha é “Beija Eu”, hit de Marisa Monte. Ótima escolha para quem vislumbra juntar-se ao primeiro time da música popular brasileira. Mais uma performance técnica e, sinceramente, muito parecida com o que milhares de cantoras de botequim fazem.

“Put Your Records On” – 60
Se até Kelly Key pode, por que Sandy Leah não poderia cantar em inglês? Dá pra imaginar perfeitamente o irmão Júnior palpitando neste momento “Sandy, pega um pandeiro meia lua, chacoalhe-o que vão te respeitar mais enquanto artista! Falo por mim mesmo”. Interessante o desempenho de Sandy em inglês. Conseguiria até ser aprovada na primeira audição do American Idol agora que Simon Cowell não é mais jurado.

“Tão Comum” – 70
Qual é a parceria mais óbvia que um artista brasileiro que almeja visibilidade poderia ter hoje em dia? Seu Jorge, claro! É isso que acontece em “Tão Comum”. A cantora até se empolga após os refrães e dá requebradas que lembram sua época “Sandy & Júnior”. A parceria funciona e deixa a artista um pouco mais confiante e interessante em palco. Quase crocante.

“Hoje Eu Quero Sair Só” – 60
A faceta “rebelde” da graduada em Letras é colocada à mostra em “Hoje Eu Quero Sair Só”. A fúria facial ao proclamar que ‘hoje quer sair só’ parece ser o máximo de malcriação que Sandy Leah consegue esbravejar. Durante o solo de guitarra do hit de Lenine, a cantora até arrisca um desengonçado requebrado no palco. Wanessa “eternamente” Camargo que se cuide!

“Sem Jeito” – 70
Mais um sábio convite da produção foi Lenine. O show de interpretação do cantor transforma a apagada presença de Sandy em um single que poderia ser ruim mas acaba bom. Destaque para a banda que acompanha a dulpa: eficiente e sob medida para os vocais de ambos.

“O Que Faltou Ser” – 60
Com as imagens em preto e branco, a balada “O Que Faltou Ser”. O excesso de falsetes é um pouco incômodo mas a cantora sabe levar com maestria os vocais do primeiro ao último segundo.

“Duras Pedras” – 60
“Duras Pedras”, uma das faixas mais significativas do álbum “Manuscrito”, é mais uma performance técnica e com ênfase apenas nos vocais da artista. A edição prima pelas boas escolhas de ângulos e imagens significativas, especialmente nos pré-refrães.

“Dias Iguais” – 80
Parceria com Nerina Pallot, a interpretação de “Dias Iguais” é um dos momentos altos do show. Sentada durante toda a performance, Sandy consegue ter mais presença de palco do que em todas as demais faixas interpretadas até então. A presença da londrina apenas acrescenta valor qualitativo à interpretação.

“Wonderwall” – 60
Quem imaginaria ver Sandy cantando o maior sucesso dos irmãos Gallagher? Pois é isso o que acontece logo na sequência. Poderia ser constrangedor – não é. A transformação no single é tamanha que nem podemos remetê-la à versão original. O inglês da cantora é um capítulo em especial: excelente.

“Por Enquanto” – 30
Com mais uma regravação, podemos, talvez, achar que estamos assistindo a um DVD de Danni Carlos. A capacidade vocal escutada acaba rapidamente com essa possibilidade. A versão feita para o clássico de Renato Russo, contudo, fraco. A banda de Sandy acaba caindo na mesmice dos karaokês, transformando a apresentação em um momento desnecessário e constrangedor.

“Quando Você Passa” – 50
Faixa da cantora quando ainda era dupla com o irmão Júnior, “Quando Você Passa” é iniciada com uma expressão de desconforto de Sandy. Nenhuma surpresa: a letra da canção é realmente ruim. Tentou-se fazer uma versão simples e singela. Conseguiram o simples e o singelo, com o pé no brega, entretanto.

“Estranho Jeito De Amar” – 85
Mais uma faixa da dupla Sandy & Júnior, “Estranho Jeito De Amar” começa com uma intrigante interpretação de um guitarrista multifacetado logo atrás de Sandy. Após tal momento, o público parece se conectar perfeitamente com a cantora que faz a melhor performance do DVD. A artista mescla, finalmente, técnica com espírito de intérprete. As imagens em preto e branco são bem utilizadas e os demais solos de guitarra ao longo da canção são muito bem empregados.

“Black Horse & Cherry Tree” – 45
Hit da cantora KT Tustall, “Black Horse & Cherry Tree” é faixa indispensável em qualquer show de calouros ao redor do planeta por ser “fácil”, catchy e que emprega valor ao interprete. Mais uma vez, a versão soa como karaokê tanto por parte da cantora quanto por parte da banda.

“Casa” / “Quem Sou Eu” – 55
No momento de interpretar “Casa” e “Quem Sou Eu”, Sandy parece estar se inspirando na filha de Elis Regina na pretensão fantasiada de MPB e nos tons empostados em todas as notas musicais. Nem mesmo com com o pandeiro meia lua em suas mãos, a cantora parece menos “sem jeito” no palco.

“Esconderijo” / “Tempo” – 75
Composições da própria Sandy, “Esconderijo” e “Tempo” são interpretadas com a loira ao piano e mostra que além de cantora, a artista cresceu enquanto artista em outras fases musicais, como a de produção. Parece que ali, sentada e com as mãos ocupadas, a espontaneidade e o conforto voltam a fazer companhia e se fazer presente. Vocalmente, o desempenho continua maestral. O triste é o encerramento na linha de especial de fim de ano da rede Globo. Poderiam ter ficado sem essa.

Termômetro Final: Sandy já não é mais apenas a filha de Xororó e nem apenas a irmã de Júnior. Cercada de rótulos eternos e uma imagem que nunca se desvencilhará, ela parece ter optado por não seguir a linha mainstream, usando seu nome e sua bagagem para trilhar o caminho da MPB com o Pop-Jazz gritando para ser um pouco mais lembrado. Embora não tenha demonstrado, neste DVD, grande domínio da arte de presença de palco, a bagagem e o conhecimento musical que ela e a equipe que a cerca carregam são, certamente, mais que suficientes para um segundo DVD muito mais interessante e espontâneo do que o “Manuscrito – Ao Vivo”.

Por: Alex Alves

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SANDY: A TÉCNICA