in ,

Entrevista: Marcelly fala sobre nova fase, disco biográfico e videoclipe que alerta para a violência contra a mulher


Ela ficou conhecida como “a menina que canta ‘Bigode Grosso'” e Marcelly não se importa em ser associada ao seu maior sucesso, mas confessa que quer provar que tem mais a dizer. E para chegar lá, está disposta a se esforçar – muito!

Foi essa determinação que a cantora imprimiu em toda a sua entrevista ao POPline por telefone. A mudança no visual, o disco recém lançado, o clipe de “Não se Brinca com Mulher” com a abordagem sobre a violência contra a mulher e turnê nova não ficaram de fora.

marcelly-entrevista

Você acabou de lançar um videoclipe com um assunto suuuuuper delicado. De quem foi a ideia para tratar de violência doméstica no clipe em referência à dançarina da Gaiola das Popozudas?
É.. realmente. Apesar das manchetes a violência contra a mulher é um assunto pouco discutido e deveria ser mais. Em abril, com o CD praticamente pronto, só faltava masterizar, enfim, aconteceu a fatalidade com a Amanda Bueno. Ela era minha amiga, participou de um clipe meu. A gente ficou mega transtornado com a notícia. A gente vê este tipo de coisa na televisão, mas nunca acha que vai acontecer com alguém perto da gente, que a gente tem o convívio, né? Aí os produtores que estavam me ajudando com o CD chegaram com essa composição. ‘Escuta esta música, vê o que você acha Marcelly’. Assim que eu escutei, lembrei da história dela e ela tinha que entrar no CD.

Então foi a última a entrar!
Foi a última mesmo a entrar no CD. E quando o disco ficou finalmente pronto, chamei alguns amigos meus, produtores, radialistas para que eles escolhessem a próxima música de trabalho e eles votaram em “Não se Brinca com Mulher”. Eles acreditaram nela. Fiquei bastante surpresa.

Mas você ficou com receio de tocar neste assunto, dela não ter a repercussão que você queria?
Olha, confesso que fiquei com receio de sei lá, não ter a maturidade de falar sobre um assunto tão sério. Aí comecei a pesquisar, a me aprofundar e cara… quanto mais eu pesquisava, mais ficava horrorizada e tinha certeza de que tinha feito a escolha certa. Os números são alarmantes!

E vamos admitir que violência doméstica só aparece no noticiário quando o caso é com alguém conhecido, da classe A, né?
Exatamente! São muitas Amandas, Marias, Jaquelines, centenas mulheres que morrem todos os anos em decorrência da violência doméstica. A cada CINCO MINUTOS [frisa bem] uma mulher é agredida. Isso é um absurdo! A gente vive ainda num país com a cultura extremamente machista e isso não vai mudar se a gente não falar abertamente sobre o assunto. Tem que pesquisar sim! A internet está aí para ajudar, para ajudar às mulheres a se informarem sobre seus direitos, saber mais como funciona a lei Maria da Penha, como denunciar, ligar pro 180. Ainda estamos muito longe de direitos iguais e precisamos incluir a pauta até nas escolas… quanto mais tocar na ferida, melhor.

Você já viveu alguma experiência de violência ou conhece alguém que passou pela terrível experiência?
A violência contra a mulher não é só agressão física. É também moral, é patrimonial e vi muito isso de pertinho. Só que eu era criança e não sabia o que realmente estava acontecendo e hoje sei como é importante se informar. Se cada um fizesse a sua parte, o mundo estaria muito melhor. Esse papo de não meter a colher, claro que tem que meter sim. Se souber de algum caso tem que denunciar. 80% das mulheres agreditas tem medo de denunciar. É um absurdo!

Te parabenizo pela coragem, viu! Não é todo mundo que escolhe algo tão delicado como single e grava um videoclipe sobre.
Olha, todo mundo sabe que eu gosto de falar de coisas leves, paquera, balada, mas tem horas que precisamos alertar! E algumas mulheres depois do clipe chegaram a mim para agradecer. Sinto que fiz meu papel, sabe?

Ahh então vamos falar de coisa mais leve agora. Você está numa fase completamente diferente, hein??
Nossa, eu estou tão feliz! É uma fase super importante na minha carreira, na minha vida. Quando comecei, em 2008, a gente deixava tudo ir, aquela sensação de deixar a vida levar e nunca imaginei que iria entrar em uma loja e ver o CD de todo mundo e o meu ali no meio. A gente foi aprendendo e evoluindo!

E o que dá para perceber do disco é que tem uma Marcelly em cada música, meio que ele representa várias fases, facetas suas. Parece que você tá se apresentando mesmo pra galera.
[risos] Isso! A ideia é se apresentar pra galera e espero que todo mundo goste. Fiz com muito, muito carinho mesmo. Se todo mundo gostar pelo menos metade do que eu gostei do resultado, já tá valendo!

marcelly-donadanoite

Claramente você está mais confiante. Dá para ver pelas suas publicações nas redes sociais, o visual novo, auto estima lá em cima.
Comecei muito nova. Amadureci junto com o trabalho e não sabia muito bem o que estava fazendo. Conforme a gente foi entrando no universo artístico, conhecendo as pessoas, eu fui mudando. E eu estou aqui para aprender, sabe? Tô mais confiante. Tô aprendendo a trabalhar, a lidar com a minha carreira. Tô mais focada, mais segura sim. Tudo o que aconteceu no passado foi necessário e tô muito feliz, não me arrependo de nenhuma fase.

Falando em fase, por mais que muita coisa tenha mudado, você ainda é associada à música “Bigode Grosso”. Isso te incomoda?
Nããão, de jeito algum. Não me importo mesmo! Não tenho vergonha de dizer que vim mesmo do funkãããão, sabe? Da comunidade. Foi isso o que me trouxe para esta realidade que vivo. O que aconteceu é que aceitei a ideia de suavizar um pouco, pegar mais leve aqui, ali. Afinal, é um álbum que vai vender, que vai entrar na casa de muitas pessoas não só dos funkeiros, que vai tocar na programação da TV, rádio, para as crianças. Então tem que mudar mesmo! A gente está aqui para aprender. Ninguém aprende nada sozinho. Abracei total a mudança!

Falando em funk, a mistura do funk com pegada pop teve um boom enorme em 2015 e você tá ali no meio. Apesar do gênero agora estar em todo canto, você ainda sente resistência das pessoas?
Graças a deus a galera tá abraçando o funk. Antigamente o gênero era muito marginalizado e hoje em dia o funk está em todos os lugares, tá na TV, nas rádios, na boca da galera, é aceito por artistas de outros gêneros. Já quebramos muitas barreiras quebradas, mas temos muito o que conquistar ainda.

E depois do clipe, do single… como tá a agenda?
Estamos montando o show novo!

Conta pra mim, vai!
Vamos trabalhar o repertório inteiro. Antigamente era só eu e o DJ, né? Agora, com turnê nova, tem dançarinos, estrutura com muitas luzes, efeitos especiais. Tô começando a ensaiar com a equipe. Quero chegar em 2016 com pé na porta!

Você falou em ensaio, dançarinos e que antes era sozinha. Como tá se virando?
[risos] Nossa senhora! MEU DEUS DO CÉU [pausadamente]! Tô toda doída. Eu sou muuuito estabanada. Tento dançar, mas sou um desastre dançando [gargalhada]. Não tenho coordenação motora alguma, sério! Eu filmo para ficar assistindo depois e saber como está tudo e fico ‘ai, meu Deus! Vou espantar o público’, mas sério… tô me empenhando muito, tá? Bonitinho vai sair!

Ah, pensa que é mais um desafio para você ultrapassar.
Verdade, né? Gosto de obstáculos. Pode mandar mais um e a gente ainda se diverte, né?! Rimos muito nos ensaios.

E data? Já tem algo para dizer aos fãs?
Em janeiro, acredito, já teremos algumas datas fechadas para anunciar e vocês do POPline serão os primeiros a saber!