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Entrevista: Adam Lambert fala sobre estadia no Brasil, música, ativismo gay, cultura drag e muito mais


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Adam Lambert está passando uma temporada no Brasil. Desde a semana passada no país, ele se dividiu entre Rio de Janeiro e São Paulo, cumprindo agenda de divulgação do álbum “The Original High”. O motivo da vinda é a turnê como vocalista do Queen (Rio, SP e Porto Alegre), mas ele aproveitou a viagem para promover seu trabalho solo também. Hospedado em um dos quartos do Copacabana Palace, de frente para a praia, o americano recebeu o POPline na véspera do seu show no Rio lá mesmo para um bate-papo especial, envolvendo música, ativismo gay, cultura drag e até Ivete Sangalo, que ele já entendeu que é nossa maior estrela, “a Madonna de vocês”.

Muito simpático, Adam concedeu a entrevista de chinelo de dedo e sem nenhum estrelismo. Ele tinha acabado de voltar para o Rio, vindo do show de São Paulo, e estava cansado, “querendo tirar a noite para beber água e dormir”, mas respondeu todas as perguntas e, no fim, ainda emendou um Meet & Greet com fãs vencedores de promoções. O contato com os seguidores, aliás, é algo que ele adora. Mas festas, por enquanto, ele ainda não encontrou disposição para ir aqui no Brasil. “O show é minha festa”, diz.

Leia ouvindo “Ghost Town”, o single do artista:

Antes de mais nada, quero te parabenizar porque vi um monte de fotos suas com fãs no Rio e em São Paulo. Isso é muito legal da sua parte.
Oh, claro! Especialmente com aqueles que passam o dia inteiro na porta dos lugares. Eu fico tipo “Meu deus, agora vão para casa! Vocês já esperaram muito!” Tem sido muito, muito, muito legal.

E como foi o show com o Queen em São Paulo?
Foi maravilhoso! Eu me senti ótimo. A energia no lugar era maravilhosa. As pessoas estavam cantando tudo, realmente apaixonadas, se divertindo. Foi realmente uma plateia muito boa.

Você cantou “Ghost Town” pela primeira vez com o Queen. Como foi isso?
Foi louco! Na verdade, foi ideia do Brian: “por que a gente não faz ‘Ghost Town’?”. E eu fiquei tipo: “sério?”. Ele trouxe toda uma nova versão da música, o que foi muito empolgante. Ficou muito legal. É uma versão rock, e o legal é que junta os dois mundos em um só.

E virou notícia na Billboard!
Sim, eu vi isso! (risos)

Você veio ao Brasil para tocar com o Queen no Rock in Rio, onde a banda fez um show inesquecível em 1985. A mídia e o público estão esperando um grande show de novo, possivelmente o melhor do festival neste ano. Você sente a pressão?
Não. A gente fez tantos shows juntos já. A gente esteve em turnê todo o ano passado, então eu sinto que é algo que a gente conhece bem muito agora. A gente se dá muito bem no palco. Temos uma química realmente muito boa, e acho que será muito legal mostrar isso para um público grande [85 mil pessoas, com ingressos esgotados]. Será uma puta energia!

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Você chegou no Brasil semana passada. O que você já fez além dos compromissos da agenda de divulgação?
Tem sido só ensaio, divulgação… e dormir. Eu venho divulgando muito meu álbum nos últimos dois meses, então é bom ter algum tempo para descansar.

Nem praia? [é só atravessar a rua e ele está na praia]
Não estava fazendo sol. Estava chovendo o tempo todo! Fiquei muito feliz quando voltei para o Rio hoje e o sol apareceu.

Festinha?
Não… Nenhuma festa… O show é minha festa! É o que eu sinto que é como uma festa para mim.

Tá bom, então. Você não fez nada mesmo. Vamos falar então dessas novidades na sua carreira. Muitos artistas vindos do “American Idol” somem de cena depois que perdem um contrato com a gravadora…
Aham…

Você está com a Warner agora, mas ficou com medo quando decidiu sair da RCA Records?
Sim, fiquei um pouquinho nervoso, porque senti que não sabia o que aconteceria em seguida. Eu apenas torcia para que fosse o melhor. Quando tive a reunião com Max Martin e Shellback e decidimos que faríamos um álbum inteiro juntos, eu me senti muito melhor! (risos)

Você tem coisas muito especiais nesse álbum “The Original High”, como as colaborações da Tove Lo e do Brian May. Qual é a música mais especial para você e qual você gostaria de lançar como single?
Ai, eu amo todas elas! A coisa louca desse disco é que ele tem muitos singles potenciais, sabe? Todas as músicas soam como sucessos da rádio… na minha opinião! (risos) Sim, eu amo todas. De verdade. Acho que todas poderiam estar na rádio.

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Você teve essas divergências criativas com a RCA. Muitos artistas reclamam, por exemplo, porque não conseguem lançar como singles as músicas que queriam. Acho que a maioria das pessoas não tem conhecimento dessas questões da indústria. Na sua carreira, quanto poder e liberdade você tem?
Tem sido um processo de amadurecimento. Havia um tempo em que aconteciam certas coisas, porque eu ainda estava aprendendo. Eu sou sortudo agora, porque tenho uma equipe maravilhosa. Meu empresário é incrível e essa relação nova com a Warner é muito boa. É muito familiar e muito flexível. E eu trabalhei com ótimos produtores. Esse álbum é muito forte, na minha opinião, então qualquer frustração ou decepção que eu tinha no passado está em uma situação muito melhora agora.

Max Martin e Shellback são os mesmos produtores de grande parte do “1989” da Taylor Swift. Mas o seu disco não teve o mesmo impacto nas paradas, até porque é impossível… ela está tipo no topo do mundo agora.
Sim! (risos) É tipo Ensino Médio. Taylor Swift é a garota popular. A cheerleader popular. Eu conheço a cheerleader popular! É isso. (risos)

Mas você ficou satisfeito com os números de vendas e as posições nas paradas do seu disco?
Sabe, eu acho que é um pouco excitante competir de alguma forma. É tipo esporte. Você pratica esporte, porque você quer ganhar ou marcar determinados pontos. É divertido, mas não é nisso que penso quando penso em música. Tem uma música, e tem a outra, elas são diferentes. Não há nenhuma razão para comparar todo mundo o tempo todo. Isso é uma coisa da indústria. Uma das coisas que me deixa feliz é que as pessoas comuns que ouvem música não estão pensando nessas bostas (risos). As pessoas ouvem a música e querem sentir algo. Isso é o que tento manter na minha cabeça. Música não é sobre, você sabe, competição.

Nos seus outros álbuns, você tinha um visual mais diferente, mais camp. No clipe de “Ghost Town”, você está muito mais simples, comum até. O que motivou essa mudança?
Eu só queria fazer algo diferente, antes de mais nada. Como artista, você não quer se repetir, porque é entediante. O que eu amo nesse álbum é que ele ainda é 100% eu, é totalmente minha voz. Eles [produtores] fizeram um trabalho maravilhoso, me ajudando a descobrir como colocar minha voz em algumas músicas: momentos calmos, mais arrastados, mais íntimos. Esse disco soa como se eu estivesse cantando no seu ouvido. Isso é algo que me anima muito, porque é novo, mais moderno, tem um pouco de influência do house e também do R&B em algumas músicas. Então acho que é uma nova guinada para mim.

A Raja do “RuPaul’s Drag Race” participa desse clipe. Quero saber se você realmente acompanha a cena drag. Aqui no Brasil, os gays AMAM esse reality show.
(risos) Eu amo esse programa também! A Raja é uma grande amiga minha. Eu a conheço há eras. Ela, na verdade, fez o cabelo e a maquiagem para mim e os dançarinos na minha primeira turnê. Foi no meio da turnê que ela começou a se montar. Então sou amigo dela antes dela ser drag. Seu nome é Sutan e ele é como se fosse da família. Uma das coisas que eu gosto desse álbum é que, mais do que qualquer outro, ele mostra meu estilo de vida. O disco mostra bem como sou eu saindo à noite, tanto em Los Angeles quanto em Nova York ou em qualquer outro lugar do mundo. Ele soa como o tipo de música que ouço quando vou às festas ou quando dou festinhas em casa – sozinho ou com alguém. É assim que soa.

A Miley Cyrus se apresentou com um monte de drags do “RuPaul’s” no VMA. Você acha que as pessoas estão mais abertas a esse universo hoje em dia?
Eu vi! As coisas estão definitivamente melhorando. Acho que a comunidade LGBT está ficando muito mais mainstream, pelo menos nos Estados Unidos. Não sei aqui, mas pelo que entendo daqui, é muito aberto também…

As pessoas amam RuPaul.
Amam RuPaul! (risos) Eu estive no programa uma vez! Foi muito legal! Eu acho drag muito divertido. É um elemento da cena gay. No clipe de “Ghost Town”, a maioria dos convidados são meus amigos, então a gente saiu, bebeu e gravou o vídeo! (risos)

Muitos fãs brasileiros ficaram desapontados, porque você veio pra cá, mas não para shows com suas músicas…
Ainda!

Ainda! Ok. (risos) Você tem planos para voltar?
Eu espero que sim! Não tenho planos ainda, mas é algo que quero fazer com certeza! Eu vou começar a turnê no ano que vem. Estou trabalhando nisso no momento, juntando as ideias para o show. Vou fazer Ásia, Austrália, Nova Zelândia, então, talvez… eu possa vir aqui? Eu espero que sim! Eu gostaria.

Nós também.
Vocês comprariam todos os ingressos? (risos) Assim eu viria!

Com certeza! O que você está planejando para essa turnê?
Ainda são só ideias. Ainda não estou planejando ela totalmente. Tenho alguns conceitos visuais apenas. Obviamente, será focado nesse álbum novo, mas também trará meus outros sucessos e as favoritas dos fãs. Eu presto atenção no que os fãs amam na hora de fazer a setlist.

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Entendi. Agora tenho uma questão mais complexa. Você sempre foi muito aberto sobre sua sexualidade. Na minha opinião, há alguns pontos estranhos no ativismo LGBT na música pop, porque na maioria das vezes são apenas mulheres hetero lutando pelos direitos dos gays, como Madonna, Lady Gaga, Miley Cyrus. Onde estão os homens gays fazendo isso, sabe?
Aqui! Estou aqui (risos)

Sim, agora temos Sam Smith também, o que é ótimo, mas podemos contar em uma mão os popstars fora do armário e lutando pelos direitos LGBT. Em contrapartida, a música pop é de um universo gay, o que é um verdadeiro paradoxo.
Essa pergunta é realmente muito boa! Eu me pergunto isso o tempo todo. É engraçado, porque, sim, a maioria das pessoas ouvindo música pop são gays e garotas. Mas a maioria das pessoas que tomam decisões na indústria são homens heterossexuais. E… acho que isso deveria mudar. Eu gostaria de ver mais mulheres tomando decisões nas rádios, nas gravadoras… Mas é desse jeito. Eu acho também que é como engatinhar. Uma coisa de cada vez. Eu acho que é muito fácil enlouquecer e alienar as pessoas, então você não tem uma chance de verdade [de falar]. É uma coisa muito sensível e frágil. Para as cantoras mulheres, é muito empolgante lutar pelos direitos dos gays, mas não há muito risco envolvido nisso. Elas não vão sofrer represália, sabe? É uma coisa da época da indústria. Acho que está melhorando e vai mudar. Eu sinto que me posicionei muito no início da minha carreira, e fiz muitas declarações sobre o estilo de vida LGBT, a igualdade e as discriminações. Sou muito orgulhoso de tudo que falei e fiz, e todos grandes momentos que tive. Com esse álbum novo, eu senti que já tinha feito isso, e que isso tudo me construiu e me levou a tudo que estou fazendo agora. Minha ideia agora é uma mentalidade pós-gay: porque ainda temos que falar disso? Eu sou gay, 100%, totalmente orgulhoso disso, mas já falei disso. Vamos seguir em frente. Ser gay não é minha vida inteira. Eu sou humano. Então, é isso.

A Marina and the Diamonds disse há algum tempo que alguns popstars exploram o público gay, falando de seu apoio só para vender mais singles e álbuns.
Isso é possível.

Na sua opinião, qual a importância dos gays para a música pop?
Eu acho que a Marina levantou uma questão interessante, e talvez seja o caso, eu não sei. Eu acho que um público é um público. Eu não tento separar meus fãs. Meus fãs são meus fãs. Alguns são gays, outros são hetero, outras são mulheres. Eu tento criar uma base de fãs diversa – de diferentes nacionalidades, idades, etnias. É isso que acho legal.

O Niall Horan do One Direction disse que era a favor do casamento gay na Irlanda quando o país estava votando isso em plebiscito popular, e as pessoas acharam que ele era gay só por causa disso.
(solta um riso)

Você acha que homens hetero famosos às vezes não defendem os direitos LGBT por causa desse tipo de conclusão da opinião pública?
Talvez. Eu acho que às vezes é a mídia que emplaca esses rumores. É tudo mídia.

Desculpa! (risos)
Não, não! Não é toda a imprensa. Mas as coisas não são preto e branco. As pessoas podem ter uma opinião ou um sentimento sobre algo, e a mídia tenta explorar a ideia ou a declaração. Tenta torná-la mais extrema do que realmente é. Acontece o jogo do telefone sem fio e, claro, o público comum é afetado por isso. As pessoas veem uma manchete, postam no Facebook e “essa é a história”. Hoje em dia, isso acontece ainda mais, porque a gente se comunica muito por Twitter, Facebook, e isso são tudo palavras. Não é interação humana. É texto, e muito se perde nisso. Você pode se sentar e conversar com alguém, olhar nos olhos, ouvir o tom de voz, e entender o que ele sente e o que pensa. Mas, em uma mensagem de texto, você não tem esses elementos. Acho que é uma época dura, porque muito da intenção se perde nisso.

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Robbie Williams disse que gostaria de fazer uma parceria com você.
Sim, eu vi!

Você toparia?
Sim! Por quê não?

Qual é sua parceria dos sonhos?
Eu não sei…

Você está com o Queen, o que é tipo UAU.
Eu sei! Acho que já tive minha cota, né? (risos) Mas seria demais fazer algo com a Beyoncé. A acho incrível.

E eu acho que esse é o sonho da maior parte das pessoas.
Sim! (risos) Eu cantei com a Lady Gaga em um show na Austrália, e isso foi muito divertido também. Eu a amo. Acho-a maravilhosa!

Para terminar, o que você tem ouvido recentemente?
Eu ouço de tudo! De verdade. Ouço pop, dance… Tenho ouvido Years & Years, eles são muito bons. Você conhece? Eu gosto muito da house music do Reino Unido no momento. Curto muito as coisas inglesas. Gorgon City, Disclosure, Duke Dumont… Eu amo dance music!

Nada brasileiro?
Não! Alguém tocou algo para mim outro dia, mas esqueci o nome… É algo famoso… [alguém fala sobre Ivete Sangalo]. Ivete! Isso! Tocaram para mim.

Você gostou?
Sim, sim! Ela é legal.

Ela é tipo nossa rainha.
A Madonna de vocês! (risos)

Fotos: Gustavo Bresciani