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Adele e a promessa de um novo milhão

Com as vendas em declínio e os serviços de streaming de música como o Spotify se popularizando cada vez mais, muitos críticos alegaram em 2014 que o “1989” da Taylor Swift seria o último disco a vender um milhão de cópias em uma semana. Falaram que o Drake era a melhor chance de 2015, e de fato ele chegou nas 800,000 cópias vendidas na primeira semana da mixtape “If You’re Reading This, It’s Too Late”. Mas pouco se falava de Adele, que andava sumida e sem expectativa concreta de um novo trabalho. Eu passei a comprar a ideia de que já seria tarde demais para acreditar que um novo disco pudesse vender tanto em sete dias. E nós estávamos errados.

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Tudo indica que o “25” da Adele, com lançamento marcado para o 20 de novembro, já tem um milhão de vendas garantidas. E vão além: é possível que chegue na marca de duas milhões de cópias vendidas na primeira semana. O que isso significa para a indústria da música? Que temos uma nova grande líder no pedaço. Katy Perry reinou com seus múltiplos singles no topo da Billboard, Lady Gaga comandou sozinha a atenção da mídia por um grande tempo, Beyoncé gerou uma reviravolta na indústria com um disco-visual lançado de surpresa, e Taylor Swift quebrou recorde atrás de recorde atrás de recorde. Daí Adele reapareceu do nada e encabeçou os charts, monopolizou as notícias e quebrou os recordes. Em uma semana, Adele superou tudo o que tínhamos visto até aqui.

E tudo isso com um single, um clipe, uma carta no Twitter, uma capa de CD e uma entrevista para a Rolling Stone. Se compararmos às grandes e fenomenais estratégias de marketing para o “The 20/20 Experience” do Justin Timberlake e “1989” da Taylor Swift, Adele não fez praticamente nada. Não estou criticando nenhuma estratégia de forma negativa – até porque eu amei as campanhas que o Timberlake e a Swift fizeram para os seus respectivos discos –, estou simplesmente colocando os pingos nos is e dando a merecida importância à grandeza da simplicidade na divulgação do “25”.

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A indústria da música de hoje tem espaço para todo mundo. Já não se é a competição de antigamente em que as pessoas têm que escolher se escutam “isso” ou “aquilo”. Mas essa democratização da atenção não parece estar dando tão certo em termos de lucro para as gravadoras e artistas. Essa chuva de retornos à música (Hilary Duff, Janet Jackson, Missy Elliott e afins) veio de uma indústria clamando por um grande momento para o ano. 2015 já estava acabando e a indústria da música ainda estava no vermelho, sem nenhum grande disco com grande performance. Os três álbuns que poderiam alavancar as vendas do ano – “Views From The 6” do Drake, “SWISH” do Kanye West e “ANTI” da Rihanna – *ainda* estão sem data oficial de lançamento. Não é à toa que ainda estávamos babando o ovo da Taylor. Como disse anteriormente, tudo estava indicando que “1989” seria o último grande disco da história em termos de vendas.

A volta da Adele trouxe a promessa de um novo milhão. Talvez mais de um, inclusive. E trouxe de volta, também, um otimismo que parecia estar enterrado. Já tínhamos pago pelo enterro das vendas de CD e eis que elas ressuscitam cheias de fôlego. Os serviços de streaming só vão crescer e as vendas de álbuns só vão cair, mas é bacana ver que isso ainda pode acontecer se todas as estrelas se alinharem. Talvez este sim seja o último disco a vender um milhão de cópias numa primeira semana. Ou talvez o último a vender duas milhões. Ou, talvez, a gente ainda veja isso de novo. Noutras vezes eu encheria o peito para dar o meu pitaco, mas, por hoje, acho melhor não fazer apostas. Afinal, quem sabe? O importante é que o otimismo voltou, bateu na nossa porta, e disse: “Hello, it’s me”.